Noite, noite

Oh noite de mar chão e prateado
que acalentas as minhas aventuras
elanguesces o meu ser amoratado
e me trazes cioso de conquistas futuras!

Oh noite de mar revolto e acobreado
que me recordas as desventuras
e as estórias com um fim falseado
e me trazes amargo e em tristuras!

Tu, que buscas sentido no luar
e embalada adormeces no meu cantar
diz-me, feiticeira, porque te escusas ?

Sim, porque te negas Noite a mim pedinte
a dar um pouco da luz da lua que não usas
para que lucine a minha alma com requinte ?


20-06-2005

Cânticos

A minha alma cantou
dores e alegrias
em versos por onde ficou
o que por mim sentias.

Cantou cedo na alvorada
em voz altisonante
cantou apaixonada
a esperança no levante.

Cantou a meio da tarde
em frémito passageiro
a canção daquela tarde
do beijo primeiro.

Cantou alta madrugada
dos jardins o olor
cantou-se desesperada
por já não te ter, Amor.


20-06-2005

Incertezas

Vai distraída a ave que passa
do meu olhar a admiração
se é voo ou levitação
a beleza em que esvoaça.

Leva-me o pensamento
em cada batida de asa
estancando à porta de tua casa
indagando-se do momento...

Solta a ave um grasnido
que me acorda o recordar,
sem forças para entrar
volto embora arrependido.


20-06-2005

Mucufi

O sonho foi curto e deixou-me perpelexo
o caminho passava por ribeiras sem ponte
as rãs no seu coaxar clamando por sexo
o Mucufi, e os banhos que não sei se te conte.

As meninas que brincam lá atrás no pomar
os rapazes que as querem e não querem ser vistos
nus - roupa espalhada pelos seixos -, em pelota a nadar
e alguém atrás da bissapas rindo do que via, pelos vistos.

Eu nadava, nadava, mas não era água, era fonte
de um líquido ora palpável ora volátil, aromático
e o Mucufi mexia e remexia e eu ofegava em laços.

Soube assim que aquele paraíso era Vénus e Monte
e o revolto e rouçagar das águas me levaria em viagem, lunático
e que a terra e o céu já não eram..., só tu e eu nos teus braços.


20-06-2005

Pousada Da Leba

Na minha terra
se come galinha com pirão
"ó milongo ó tchange amé muto"
se come mesmo com a mão
da panela se come
calcinha ou não
o pirão se some
fazendo bola na mão
molha no conduto
rapa na galinha
vai matando a fome
ué!, não tem mais não?
Está onde o pirão então?
Se come só com molho
engorda só com o olho.
Ouvindo o kissange
ainda com fominha
passa os dedos na carapinha
o dente ainda range
na minha terra...


20-06-2005

Notas do Meu Diário

Não houve banho
nem a maresia fui cheirar
nem ao sol me fui deitar.
Começou o dia trocado
pois pensava ir nadar
-- e porque não vê-las passar --
e o que aconteceu ?
Levantou-se de sueste o vento
e o que não fiz foi lamento
porque estava esperançado
num banho de mar com o Tiago
- o amigo que no coração trago -,
e lá se foi a esperança
de galhofar com ele no mar
que numa alegria imensa a esbracejar
- como é bela a vida na surpresa -,
se diverte a nadar
ele, meu Deus e o mar
a súmula da beleza.


20-06-2005

Vozes

Nesta voz em que me tenho o que conheço
do timbre da manifesta alegria é o compasso
de que as palavras se envolvem e o abraço
afectuoso que te recebe amigo que mereço.

Nesta voz em que me tenho o que desconheço
é a afonia ou a rouquidão derivada da brusquidão
da palavra insultuosa sequela da discussão,
quantas inúteis, de espúrias razões que ofereço.

Nesta voz em que me tenho, o que gosto
são os tons melodiosos duma canção de amor
e as alegres notas que dançam ao som do tambor
no batuque, na marrabenta ou nas marchas, por oposto.


20-06-2005

Beijo

Quando um dia entrei em tua casa
e te vi na salinha bela e sorridente,
o meu coração pulicou de repente
louco estrangeiro num corpo em brasa.

E, oh maravilha das maravilhas
ao receberes-me beijaste-me a boca
e então, a minha alma louca
feita águia de Angola voou mil milhas.

E nunca mais parou..., a águia feliz
sobrevoa anharas, montanhas e savanas
exibindo-se na convicção que me amas.

E vai por todos os animais e diz:
"eu até voltava -- para comer --, a pousar
mas nem isso me assiste por tanto a amar!"

Recordações

Há dias em que vamos pelo rio das recordações
e outros há em que ele vem ter connosco
de surpreza, em conversas para lá do sol posto
no fresco da madrugada em refrescadas emoções.

Há dias que há muitas horas foi à pouco
outros há que muitas horas não aconteceram
e as águas dos rios da alma se perderam
ou dos leitos pedregosos vêm num falar rouco.

Há dias em que as recordações têm tal simbolismo
que a estrutura do ser se abala e abana no sismo
do porquê, por que razão, por que eu?

Outros há em que sem se esperar aconteceu
e de tanta saudade veio muito mais alegria
e quanto mais incompreendido mais consentiria.


20-06-2005

Notas do Meu Diário

Aconteceu
porque tinha de acontecer?
Alguém me ofereceu
um modo de te rever
ó Lubango.
Sabes quem me deu
notícias do teu viver?
A Elsa, o Anatóli e a Ludmila
acabadinhos de chegar da Huíla
com fresquinhas
da reconstrução
das jazidas descobertas
das águas quentes da Montipa
até da Chipipa
tive ofertas
até das farinhas
do pão e do pirão...
Fiquei de ti a saber
ó Lubango
meu saudoso jango!


20-06-2005

Ô Kamukanda

Querida
engomei-te aquela blusa
magenta carmesim,
sabes,
do primeiro encontro,
o nosso talismã.
Sinto-te longe..., enfim,
e esta manhã
preparei-te a blusa
para que voltes para mim!


20-06-2005

Secaram-se as Flores

Era dia e se fez escura noite de repente
e a noite encobriu o quarto minguante
e tu maldade à bolina e mareante
em tuas asas me levaste a paixão, e de repente

na rua onde o meu coração se sente
outrora a mais bonita e perfumada
onde o meu ardor melhor se tem na chamada
secaram-se das varandas as flores, de repente

e elas que em sã competição se faziam cheirosas
se alindavam de petalas e corolas vaidosas
murcharam em coro, ressentidas, e de repente

não mais brilhou o sol e a lua naquela rua
e a alegria despediu-se da vivacidade e ficou nua
e a minha alma enfadonha se tornou de repente.


20-06-2005

Neblina

Horizonte meio indefinido
neblina, mar chão verde água,
não me aquece o sol escondido
espraio em calma a mágoa.

Na vastidão vejo o que não vejo
no areal pegadas do teu andar
humidade, lágrimas que gotejo
este sol que tarda em me animar.

Fraco fluxo e refluxo da maré
meu querer oscilante e contuso
teu sorriso d'escárnio e má fé.

Foi hora adiantada no fuso...
Ó mar embala a minha tristeza
engana-me o sol na sua frieza.


20-06-2005

Fazes-me Falta

É mar
aberto
mar, mar
a bombordo
a estibordo
à proa
à esquerda, à direita
em frente
praia feita mar de gente
alguma contrafeita
outra impertinente
mar batido de onda alta
areia escaldante
sol inclemente
nada faz falta!

Nada faz falta?

Sim, tu
sorridente
toalha estendida
óleo bronzeador
de cacau o odor
lânguida, descomprometida
maçã e serpente
revista a condizer
tentação ardente
maré alta
marulhando a dizer
fazes-me falta
fazes-me falta...

Agita-se a areia
remexe-se... a remexer
como em minha ideia
és meu viver
és meu viver
na escuridão candeia
não vivo sem te ver
fazes-me falta
fazes-me falta...


20-06-2005

Secreta Combinação

Há entre mim e o mar
uma secreta combinação,
eu digo-lhe do meu penar
e ele de sua danação.

Falo baixo, a chorar
d'espinhos no coração;
fala-me do marear
na sua rebentação.

Diz-me que é tão grande,
mais que meus olhos vêem...
Mais que meus olhos vêem?

Nem os deuses prevêem
ao céu, ao infinito
o meu sofrer maldito!


20-06-2005

Confidente Natureza

Tenho d'amiga uma acácia
onde mora um seripipi,
por confidente uma águia
que te segue e em seus olhos te vi.

Na fresca sombra da velha árvore
ouvindo o canto do seripipi,
teu nome guardo em róseo mármore
-- eternidade que me quero em ti --.

Passa a águia e diz contente:
«graciosa de cabelos ao vento
vem pela vereda feliz e a correr...»

Termino apressado, finalmente,
o choro do cinzel, o meu lamento,
e limpo do meu rosto o meu sofrer!


20-06-2005

Mar Imenso

Trago dentro de mim um mar imenso
e o amor que tenho nele é guardado
porquanto outro lugar não ser indicado
indo o coração e o mar em concenso.

E quanto mais amor mais mar imenso
mais da água salgada virá água adocicada
mais a paixão navega pelo vento acicatada
e mais o coração é ao amor propenso.

Quanto mais mar mais ao amor pertenço
mais a lua apaixonada brinca com a maré
porquanto o vento ateia as velas da fé.

E se ao mais mar se suplantar o amor imenso
mais se despede a saudade do lenço
mais amor o mar guardará na volta da maré.


18-06-2005

Visto na Esplanada

Bem, eu gosto delas de todas as maneiras,
mas essas em grandes saltos altos empoleiradas
que me lembram garças esguias desempoeiradas
em dança de cio desbragadas e fragueiras...

Bem, essas voltam-me a cabeça de tal modo
que vejo tudo trocado. Florestas no deserto,
o sol de noite, a lua saltitando em campo aberto
e nem no meu sofá velho me acomodo.

Para minha tranquilidade tenho óculos escuros
que me resguardam de assaltos à idoneidade
(desculpa ponposa da velha questão da idade)
e no meu recanto conjecturo os saltos dos muros...


18-06-2005

Este Amor Que Me Inquieta

Este amor que me inquieta, que ao tempo resista,
porquanto mais te quero mais me exponho
e quanto mais te realizo mais sonho
e se mais te sonho mais te tenho à vista.

E se mais te vejo mais enlouqueço
porque se mais me deslumbras mais me perco
e a surpresa adocica o meu coração aberto
e quanto mais te oiço mais te ofereço.

Quanto mais te amo mais me desengano
e o sangue corre quente e em turbilhão
porquanto mais me foges mais te tenho à mão.

E um só, um só dia que passa parece um ano
e se mais não te digo mais me aflijo
e quanto mais te quero mais me exijo!


18-06-2005

Até à Eternidade

Nesta praia deserta
onde a calma impera
e não se ouve das gentes a fera,
só da onda o constante
tombar anunciador,
revi-te um momento
e o ar vestiu-se de mais cor
e o tempo com mais tempo!

Até ao eterno momento
singelo sentimento!


18-06-2005

A Flor

Em poesia sonhei um jardim
de flores as mais bizarras...
há uma que contudo
merece as mais bonitas jarras.

Um poema não lhe diz tudo
e o refrão guardo para mim!


18-06-2005

Sortilégio

Veio de ti o sortilégio
de ter de amar o proíbido
dias e noites sem sentido
preso neste amor egrégio.

Veio de ti a feitiçaria
mitigar o meu desejo edace
e reduzir a uma ninharia
este meu ser de lovelace.

Veio de ti a orientação,
o traçar de um rumo certo
desde o beco à constelação.

Deixei o navegar incerto
na embriaguez e no desvario
de saltimbanco d'amores, frio.


18-06-2005

"Atenciosidade"

Vem daquela praia distante
se a memória me não atraiçoa
uma voz sofrida que ecoa,
um rumor plangente e gritante;
uma costa que se esvai exangue
tal se esgota o coração cansado
no rastro do amor alado
às nuvens, aos céus, ao firmamento,
onde o sossego tenha lugar
e o atencioso faça perfumar
a flor da paixão
linimento
ao amor terreno inconstante.


17-06-2005

Maramar

Mar mistério, amor perdão,
à bolina nas asas do albatroz
ensaio um poema a sós
extasiado no milagre do teu viver.
Não acredito, nem quero crer
que me deste est'outra voz
para te exaltar a amplidão!

...

Nesta praia deslumbrante
onde alienígenas se passeiam
semi nus,
bem vistos, à contra luz,
quantos diriam:
"amo com convicção!"

Cinismo cruel
que alicerça o fel.



17-06-2005

A Música e a Poesia

A música e a poesia
a alma e o enlevo
que diferente o mundo seria
sem esta dualidade de relevo.

A música e a poesia
em triste ou alegre cantar
a estrela da vida alumia
e o luto ajuda a passar.


17-06-2005

Velha História

Contou-me a musa já morta
dos rios que correm ao mar
e das barragens a estrangular
a liberdade que entrecorta.

Contou-me também do vestir
dos vales e gargantas, das margens
que na roda da época mudam as roupagens;
condicionado não muda o povo a pedir.

Muda do rio o intento do pescador
fecham-se as comportas ao agricultor
a abrir caminho ao recreio em navio.

Passa impante o senhor velejador
necrófago popular este novo condor
e o povo fica a ver arder o pavio!


17-06-2005

Pousada Da Leba

Zé Luis

Kissonde te queres
kissonde te deixarei
kissonde entre as mulheres
defensor da grei.

No quarto doze
te queres hospedado
um andar é dose
para ser locado
no mata-bicho a dose
será ao teu cuidado
e da ceia a dosa
acompanhará o fado.

Tens o quarto à disposição
virado a nascente
do sol o fraco clarão
te acordará docemente.

A Pousada da Leba
agradece a visita
na próxima dá e leva
um cartão à primita.


17-06-2005

Árvore da Vida

Foi à tua sombra que comecei o meu caminho,
foi no teu frondoso fresco que me recobrei
e protagonista doutras alegrias que hoje sei,
como a ave migratória no regresso ao ninho.

Foi o teu tronco um esteio singular,
a tua copa à chuva serviu de protecção
e do sol me protegeu da sua forte acção
como as asas à ave lhe enfeitam o planar.

Já era parte de ti muito antes de nascer
os teu sonhos completavam-se no meu viver
e na cadência do teu rumo fui crescendo.

Até ao dia em que à memória me prendo
e aí, dia a dia, saudoso te vou visitar
para à tua sombra outros sonhos reanimar.


17-06-2005

A Meus Pais

Este vazio que sinto e atormenta
de obscura e transparente equidade
equilibrio de dor e saudade
rio que a tristeza alimenta;

Este nada etéreo metamorfósico
que meu sorriso a custo transfigura
não seria tão profundo se agnóstico
em vez de fé cristã e sua cultura.

Esse vazio que sufoca e é nada
seiva de amor que se descobre lenhina
ampara a dor ao crente confinada.

Procurar-me n'Ele, isso me anima
mas o vazio deixado enche o nada
em que me tenho de amor à dupla amada.


17-06-2005

Vede...

Vede caminho da esperança
como os meus amigos
enfeitiçados, não são contidos
e dizem coisas sem lembrança.

Vede como a colegialidade
obceca a razão
e confunde o coração
na manifestação da amizade.

Vede Musas ditosas
da Serra da Leba
e Ninfas da minha gleba
como vos têm amorosas.

Vede como me confundem
fazendo-me acreditar
que dizendo do meu amar
também eles se infundem.

Oh!, Musas,
que belo é escrever
para alguém ler!


17-06-2005

Cascata da Huíla

É de ti ó Cascata da Huíla que mais me lembro,
do teu ventre, desse lago de águas transparentes e frescas,
dos banhos, dos piqueniques, das raparigas em Setembro,
dos recantos abrigados, dos passeios românticos, das festas.

A estrada de terra e areia com o combro ao meio
que levava os carros como se já soubessem o caminho,
a namorada enfeitiçada que finge não saber ao que veio
e o rapaz dengoso e matreiro à espera do miminho.

Ah!, Cascata, se as tuas águas voltassem a cantar para mim,
se as árvores e os carreiros voltassem a guiar os meus passos,
a lua do meu destino voltaria a sorrir, enfim...

Os encontros amorosos que foram só beijos e abraços
teriam agora outro fervor, outra acha do meu coração
amorativo que te ensinaria, ó Cascata, outra canção!


16-06-2005

Casa Que Fala

Caminho por vereda estreita
tropeçando em raízes
esvoaçando esta maleita
em voo de perdizes.

Amparado por uma bengala
subo o íngreme e escorregadio
acesso à casa que fala
da formosa Ninfa do Rio.

Cansado, tremulo e fremente,
guiado pela lucina luscente
bato à porta e anuncio:

Ó formosa Ninfa do Rio
acode de amor este crente
que traz o coração igniscente.


16-06-2005

Fossem

Fossem os teus olhos os meus olhos
e a tua boca a boca que beijo
e verias amor, como te vejo
e o quanto luto entre escolhos.

Fossem os teus lábios os meus lábios
e embora só de amor falassem
e em teu corpo se sonhassem
beberiam teus conselhos sábios.

Fosse o teu pensar o meu pensar
e o teu querer o meu querer
e há muito estariamos a viver
para meu coração amansar.


16-06-2005

Vale a Pena

Não vale a pena mentir
nem vale a pena esconder
de ti todo este sofrer
se perdão te venho pedir.

Não vale a pena o olhar
nem vale a pena o sorriso
que me dás se do meu sizo
continuares a duvidar.

Não vale a pena valer a pena
nem preocupação ou cuidado,
quando se vive apaixonado
qualquer tormenta é leve pena.

Vale a pena valer a pena
por tão bela e formosa Sirena!



16-06-2005

Angola

Pátria perdida
saudade achada
alma ferida
de sangue manchada.

Terra da minha terra
Rios dos meus versos
Mar da minha poesia,
qualquer um te queria
em valores dispersos
em terra de farta terra.

Mãe da planície
Irmã da montanha
savana e arvoredo;

Gente sem medo
em passado de façanha
e futuro que vicie.



16-06-2005

Se Algum Dia...

E se algum dia, por um dia,
de mim tiveres queixume
e nalguma palavra vires azedume
porque feria...

E se algum dia, por um dia,
de mim vires só o meu lado
no todo ou em parte obstinado
porque queria...

E se algum dia, por um dia,
de mim ouvires só a razão
enevoada na incerteza da emoção
porque seria...

Então nesse dia, por todos os dias,
a arrogância e a insensibilidade
desculpa-me pela amizade
que merecias!



16-06-2005

Adeus Mãe

Faz hoje anos que partiste...
Oh!, quanta ternura no momento,
quão dorido foi o meu lamento...
Por entre lágrimas me fugiste.

Ali... inerte... sorridente
a expressão que de ti guardo;
da angústia me resguardo
rezando a Deus clemente.

Falávamos da tua terra
quando em coma viajaste,
e por lá ficaste...

Falávamos da guerra
que te tirou o sonho
para ti o mais risonho!



16-06-2005

Beijo de Iemanjá

Continuarás a ser o meu confidente,
oh! mar, meu amigo do hemisfério norte,
no teu marear joguei a minha sorte
quando de decidir tive de repente.

Aos teus humores me entreguei tão sómente,
vogando na crista sem destino ou norte
balouça-se a alma num fingido desnorte
vendo-se espelhada na mater impenitente.

Refletes no céu plúmbeo e dormente,
oh! mar, a cor da alma que se sente
carregando devaneios sem cais onde aporte.

Vem na névoa das imagens que tens presente
o beijo de Iemanjá para que seja forte,
o cacimbo e o vento da saudade ignifremente!


16-06-2005

Imanente Chama

Quando fores, meu amigo, pelas tuas recordações
e aportares ao sublime grelhado de uma quimaia
e ouvires da cacunda da preta o choro que ensaia
o aviso da fome que se embota nos mandões;

Quando pelo Cunene abaixo fores pelos jacarés
e detrás das bissapas, imóvel, vires o sengue,
recorda-te rápido dos passos de merengue,
rodopia e joga-lhe na fuga a poeira dos teus pés.

Sorri e canta então a lengalenga Cuanhama
que louva os deuses pelos seres e pela natureza
e da fome atira a prece à caça da certeza...

E não receies dizer-nos da imanente chama
que incende a tocha da vida de emoções,
jornadeante do ego, seiva de que te recompões!


16-06-2005

Quem a tantos tem pedido

Quem a tantos tem pedido
que de Angola lhe tragam poesia
para que a alma aqueça dia a dia
ver-te partir, oh Deus, que ferido...

E se de outros mais não houvesse
inda que de muitos desconhecido
o mesmo anteriormente lido
repetido de novo viesse.

Saúdo quem te tem na poesia
Angola, caminho, saudade, tudo,
e despido de preconceitos, sobretudo
te clama amor até ao fim da via.


16-06-2005

Praia, Praia...

Mal descortino uma nesga de areal
um "sóinho" lugar para me estender,
para desfrutar do sol e nele me aquecer...
Perto de uma loiraça seria o ideal.

Ir embora, com esta praia, é uma pena:
um mar calmo, quente, bem como o tempo,
e não vai ser um pequeno contratempo
que me desviará a atenção de uma morena.

Nem deixarei de ver umas musas branquinhas
que fazem tudo horas e horas a gosto,
por estragar a pele até ao sol posto,
essas nórdicas de escaldão vermelhinhas.



16-06-2005

Dizer

Dizer-te,
dizer-te coisa nenhuma
que o coração vai cheio
a transbordar
e pede antes um beijo
e um lânguido olhar!

Dizer-te,
dizer-te coisa alguma
que a alma vai sôfrega
por encantar
percorrendo trôpega
o verbo amar!


16-06-2005

Sonhos...

Sonhos...
Realidades tangíveis
querubins da vontade!

Anemonas da vida
imprescindíveis!



16-06-2005

Sonhos

"Tanto sonho findo
que a vida pisou"
tanto sonho lindo
que ela me privou.

Tanto sonho realizável
que a vida não quis
tanto sonho admirável
de que ela foi actriz.

Tanto sonho cansado
que a vida me deu
tanto sonho suado
que à noite aconteceu.

Tanto sonho esgotado
que a vida ofertou
tanto sonho procurado
com ela em quem sou.


16-06-2005

Recordações

Arriba o mar azul
imenso de suavidade
beijando as areias
beijando saudade
e o céu límpido
no horizonte em linha
leva-me as ideias
e a alma definha...

À miríade de pegadas
desenhadas no areal
a onda não tem peias
em apagá-las por igual.

Apagasse o meu coração
o rio das recordações
que me sulca as veias
aos borbotões.


16-06-2005

Labéus

Manhã, manhãzinha
alma ensonada
preguiçosa
abrindo-se à fresquinha
da madrugada gelada
teimosa.

Ar lavado e puro
que da planície
vem cheiroso.

O meu ser impuro
em contrição inície
um dia proveitoso.

Ó luz que vens dos céus
no sol que desponta
declarando a alvorada
afasta-me de labéus
que à minha conta
encontre na caminhada.


16-06-2005

Comboio da Chibia

Bitola estreita
comboio da Chibia
puxa que puxa
vai que não vai
devagarinho...

E sempre à espreita
na curva do caminho
agarra-se a miudagem
que vai que não vai
no estribo da carruagem
gozar um pouquinho...

Carrocel ofegante
o comboio da Chibia
puxa que puxa
chia que chia
e a miudagem ululante...

Quem mais não tem
brinca com o perigo
chama-lhe amigo
e vitória também.

Puxa que puxa
chia que chia
divertimento do dia
sofrimento... da bucha.


15-06-2005

Hei-de voltar...

Hei-de voltar, sonho meu, hei-de voltar
e passearei os meus olhos pelos teus encantos
e irei aos mais recônditos recantos
desculpar-me por há tanto não te abraçar!

E falarei aos bigodes, aos seripipis, aos caricuatas,
como é viver nesta lua mentirosa do norte,
e às zebras, aos olongos, aos guelengues, da sorte
de ver e cheirar as manhãs orvalhadas nas matas!

E vou escutar os bagres e do Cunene os jacarés
nas suas ancestrais estórias dos rios da vida,
os mabecos e os macópios que na chana têm guarida,
e na pedra quente a centopeia de mil pés!

E para meditar à sombra da mulemba gigante
levarei mirangolos e matipatipas numa quinda
e na cabaça a bulunga da mucaia do soba e ainda
o livro dos deuses na estória mais importante...

Hei-de contar, sonho meu, hei-de contar...



15-06-2005

Ao sol quente e radioso

Ao sol quente e radioso
se passeia a alma feliz,
das agruras se desdiz
nesse afago gostoso!

Nessa luz radiante
a vida seduz em cor;
a ignescência sem dor
na alegria extante!

No sol cansado que se põe
alma nova revigorada,
do porvir resguardada
ao que o destino dispõe!


15-06-2005

Chama-me morte

Chama-me morte
ao teu manto negro.
Chama-me sorte
num ápice...,
tira-me deste degredo!

Bebamos no mesmo cálice:
da vida o norte,
da morte o segredo!


15-06-2005

Eugénio de Andrade

Morreu Eugénio de Andrade,
Morreu O Poeta:

Os céus abriram-se em festa!
A terra, mais seca, cresta!

Ficou a saudade.
Ficou-nos o "asceta"...


15-06-2005

Sereia ou Ninfa

Ó vento que vens do lado do mar
em fatiota própria ao calorão
e na serra te amenizas em fresquidão,
diz-me para que lado devo olhar:

Se para a gruta que esconde no Namibe
a Sereia mais bonita que se possa imaginar,
ou a Ninfa simples e amorosa, dedicada ao lar
por quem a Chela se envaidece e revive!

Se a beleza que encanta e a retina hipnotiza,
de voz melodiosa que ao mais alvoraçado faz adormecer,
e a maresia que nos envolve, esquecendo-nos de viver,

Ou os verdes da majestosa serra que magnetiza
entre montes e vales, riachos e cascatas, divinos sons,
plêiade de seres, policromia de vidas e dons!


12-06-2005

Praia das Miragens

Falando de ti um dia destes, ó mar...
Março já passou, vieram as águas frias,
acabaram as férias, tempo em que te rias
das meninas pavoneando-se a desfilar...

Das exibições de franzinos peitos inchados
às impertigadas meninas de seios soerguidos,
todos em carrocel de feira comprometidos
esvoaçavam esses novos seres alados.

E tu mar, ali ao lado, baril, na tua,
fingidor enrolavas-nos na arrebentação...
e rindo, sempre disfarçavamos no coração
a vergonha de não ser noite sem lua.


12-06-2005

Praia, Praia...

É a areia fininha que vem e bate,
a criança que chora e a mãe ralha,
o pau do sorvete, catrapuz, parte,
o farnel, o balde, o lixo, a tralha...

Na bandeira amarela a falha,
o banheiro na volta das meninas,
o biquini que passa e me baralha,
peitos inchados de galos sem crinas...

Branquinha ao sol esparramada,
gordinhas ofegantes, derretidas,
loira sorridente à chamada...

Mulher entradota bisbilhoteira,
casadas, solteiras, atrevidas,
e ninguém me pega à charneira!...


12-06-2005

Sentir-me como me sinto

Sentir-me como me sinto,
agradeço a quem, meu Deus,
se junto a Ti, nos céus,
tens de quem me sinto!


12-06-2005

Sentir por existir

Sentir por existir
sonhar por amar
sentir por sentir
diferente amar
morrer é pedir
humilde rezar


12-06-2005

Não quero saber o que fui

Não quero saber o que fui,
pouco me interessa o que não,
se sou o que não fui
não sou destino sem razão!


12-06-2005

Sou

Sou necessidade de dizer,
de me ouvir sentindo
emoções que sem querer
vão minha alma abrindo.

Sou vontade de perceber
algo de mim desconhecido
e perpectivar do que no meu ser
haja por bem acolhido.


12-06-2005

Modernidades

Passam gentes apressadas
algumas com crianças pela mão,
se vão contentes ou não,
vão de faces afoguedas.

O tempo urge..., esse mistério
que passa e não se detém,
para o trabalho, para a escola também,
a modernidade é caso sério.

Onde vão os tempos de descanso,
as brincadeiras de infância!
Na criança não havia ânsia
e o tempo rolava manso.

12-06-2005

Será do mar quente

Será do mar quente
ou desta sílica
que te vejo idílica,
ou minha vista mente?

Será do indolente
passar do tempo
e do meu comportamento
que te vejo contente?

Ou será que me fisgaste
me trazes caídinho
amando de mansinho,

e no sol que volta
acalmas a revolta
neste corpo que amaste?


11-06-2005

Devaneios

No caminho sinuoso
de tua casa
encontrei uma andorinha
sózinha
extenuada...

Vinha de te procurar
e já sem asa
angustiada
por se ver perdida
na sorte madrasta...
Vinha de alma ferida
de me ver longe da casa
da apaixonada
da minha vida...

Sigo sózinho
um caminho que não descortino
e nem do outeiro, no cimo
vislumbro orientação
um mero sinal
que me leve afinal
ao caminho do coração!


11-06-2005

Devaneios

Aquele dia fantástico
que meu amor aceitaste
enquanto me beijaste
será sempre mágico.

Aquele olhar ternurento
depois do beijo rápido,
de fugida, no teu pátio,
é sempre o meu alimento.

O teu sorriso doce
o teu afago carinhoso
são o meu delicado poiso
que alma nova trouxe.

Poder estar a teu lado
compartilhar a tua vivência
e usufruir da tua sapiência
é sonho de um enamorado.


11-06-2005

Vede Musas

Vede Musas como me tenho
em tão pobre e ruim estado,
como meu ser se vai em arrastado
desprezo pela vida que mantenho!

Onde nem calor se tira ao lenho
que à esperança junto a arder
nem mar que submerja tão sofrer
nas telas de seu rosto que desenho.

Em finos traços... angelical nas pinturas,
tanto belas quanto me soem as amarguras,
vede Musas como me mantenho.

Soerguido em ténue esperança de a ver
num leve vislumbre que acalme o meu sofrer,
assistam-me Musas ao que venho!


11-06-2005

Diz-me a Alma

Sinto no corpo o frémito do teu amanhecer
oh! Chela que calcorreei abrindo meus olhos à natureza
quando ainda madrugada alta me preparava para viver
o que hoje recordo ser meu halo iniciático à beleza.

A memória traz envolta na aragem espessa e fria
a neblina palpável anunciadora da vida que recomeça
na fotissíntese, na procura de alimento, na correria,
na volta que o Mundo dá, na volta da promessa.

E sinto d'então o deslumbramento, o corpo leve e ausente
vogando pelos cheiros que a humidade da madrugada teceu
nos castanhos terra e verdes arvoredo que o sol dá de presente.

E vem agora a Alma dizer que este belo que o sol prometeu
não é só dele afinal, tem a lua, o arco-íris e os astros em volta
e a chuva que cheira ao aroma que leva a minha alma solta.


11-06-2005

Foi sofreguidão

Foi sofreguidão
quando se chegou a mim
não consegui dizer não
nem pensar outrossim
que já meu coração
batia fora de mim
e quando lhe dei a mão
um tremor correu por mim
oh! não, oh! não
não me faças assim
não foi beijo, foi beijão
eram varas que tremiam assim
as pernas não eram não
mas os lábios, esses sim
não se desgrudavam, não
assim sim, assim sim
à volta nada existia então
beijo por ti, beijo por mim
beijo chupão, beijo chupão
nunca beijei assim
mais não, mais não
já não dou por mim
só um então, só um então
desfaleço assim
um empurrão, um apertão
ai vim, ai de mim
no calção
no jardim
no verão
que vergonhão!


11-06-2005

Amores de Verão

Corre uma fresca aragem,
lá longe um barco à vela;
acenam-me, será que é ela
ou tudo não passa de miragem!

Refracta-se o sol quente
nas ondas, na sua espuma,
à espera farta-se a mente
que me decida e assuma.

Vem de vela enfunada
n'alegria em que me aguarda...

...Surfando com ligeireza
esconde sua tristeza!

Ind'agora o amor chegou
e já o vento o levou


11-06-2005

Mulata

Naquela pele acobreada
com olhos vivos de gata
e cabeleira entrançada
mora uma bela mulata.

Com andar insinuante
de pernas altas torneadas,
peito hirto provocante
e nádegas bamboleadas...

Vibra o ar quando passa
cantam aves em coro
juntam-se as nuvens em choro!

Perguntam os anjos: "Que se passa?"
É a mulata de Angola
a deusa do reino N'Gola.


11-06-2005

Ó Todos

Ó meu amor por onde andas tu
ó destino encruzilhada
ó caminho agreste e nu
ó luz da minha estrada!

Ó deuses romanos e gregos
ó ninfas, meu alimento
ó anjos não sejais cegos
ó todos, olhai meu tormento!

Olhai e vede a solidão
estampada nesta tristeza!
Não a abarca a vastidão
nem o deserto em dureza!

Olhai e digam-lhe que a dor
que trago lhe tem igual amor!


11-06-2005

Ângulos

Porque demoras fada madrinha,
porque me queres em tais prantos,
vê como meu coração caminha
e livra-o de angulosos cantos.

Ele cisma e se mortifica
turvado pelos lados do agudo,
cabisbaixo e azedo fica,
cala-se ainda mais sizudo.

Alegra-se e ganha vida
na abertura do ângulo recto,
o sol a lua..., muito mais tecto.

Que a paixão seja consentida,
que se espraie livre em obtusos
e vá por novos sabores e usos.


11-06-2005

De Moçâmedes...

De Moçâmedes um boneco
que o poeta perfila
no rouxinol e na mágoa
de quem a sofre e di-la
e lava a alma na pura água
da Cascata da Huíla.


11-06-2005

O Poeta e a Mágoa

Descobre o poeta sua grande mágoa,
descobre-se no amor que o faz sofrer,
alivia-a na poesia, salvífica tábua
de naufrago na luz do entardecer.

De olores e saudades se envolve no manto,
que revive na angústia da memória
em sons e cores dulcifica o canto
em que faz da mágoa outra história.

Extravasa o poeta em feliz acontecimento
da dor a saudade o sofrer atroz,
manifesta regozijo em tal lamento
que encanta quem o ouve noutra voz.

E vai repescando à alma abrigo,
no sol que o aquece e na lua que lhe sorri,
no dia e na noite que passa sem amigo,
no poema que escreve para ti.


10-06-2005

Plumas

De muitos feitios, cores e impermeáveis,
leves e resistentes, são das asas as plumas;
assim te direi palavras nenhumas,
que meus olhos não as vissem imutáveis.

Que meu corpo não absorva delas o desejo
(como ave de seu ninho defensora),
a pluma rasure a palavra, se não criadora,
se falsa a linha escrita em que versejo.

A alma à palavra se fixe em gerúndio som
e transpareça a subtileza de um tímido,
em encanto colorido de aves a planar,

E o bando de vocábulos exibindo o seu dom
esparge de suas plumas o amor contido
em lágrimas felizes que à amada se vêm declarar.


10-06-2005

Volta na Onda

Anda hoje o tempo despenteado,
com um vento forte e agreste,
e nessa maresia tocada a sueste
vai o meu amor alvoraçado.

No salpico da onda que esvoaça
vou procurando-te por todos os lados,
não sabendo em bateres descompassados
o pobre coração o que faça.

Nem o vento irado se detém,
nem ao mar isso lhe agrada,
na volta da onda..., amor vem,

Nas asas do vento, apaixonada,
que o tempo melhora num instante,
num beijo teu reconfortante.


10-06-2005

E tu Bero...

E tu Bero, que corres desalvoreado
quando a chuva de verão te aporta,
e saltas em aluvião fora do valado,
diz-me se de minha amada já sabes a porta?

Sei que não posso confiar muito em ti,
mas, Bero, o desejo é fogo e o ar do deserto
traz-me perdido, e se não me guio por ti
sigo outro rumo com o amor aqui tão perto.

Deixa-te de espreguiçar pelo aluvião
e vê da minha ninfa na tua foz,
ouve como me encantou com sua voz!

Como trina acordes que apertam o coração!
Se deres notícia que está à beira mar,
sussura-lhe ao ouvido que morro a amar.


10-06-2005

Angola

Por todo o lado te procurei, por todo o lado,
até à mulemba mais distante,
até ao riacho da chuva inconstante,
até das forças ser abandonado.

Por todo o lado me disseram, por todo o lado,
que te viram desenhando nuvens divertida,
outros que te viram ao longe de partida
em alegre conúbio com o sol abraçado.

Ser terreno e não ser alado, é um contratempo,
sentir-te e não te poder ver por não ser este o tempo,
é um constrangimento que carrego e me envolve.

Procuro-te quando te durmo e me sonho em ti
à luz do sol ou da lua, até quando beijo, é em ti
que me realizo, e por isso o tempo não te devolve.


10-06-2005

Hunguéria

Ainda se os verdes fossem só verdes,
claros ou escuros, com alguns matizes,
e eu, só me recordasse nas minhas raízes
de jogar hóquei com maboques verdes,

Ainda se no fresco e límpido ar
que descia a serra com cheiro selvagem,
à tristeza fosse buscar a coragem
para me mentir e não te recordar,

Ainda se a velha feitiçeira da Humbia
me ouvisse e me fizesse só um feitiço
que diminuisse a dor ou lhe desse sumiço,

Ainda assim, não sei se resultaria,
passar um só dia, uma só hora
sem de ti me lembrar..., como agora.


07-06-2005

Métrica?

Não é essencial ao sonhador
a métrica que é do matemático,
e que se exige ao errático;
o poeta muda-a consoante a dor

Mesmo alguns puristas da acção
da métrica e da rima,
já viram que por vezes assassina
o dizer de boa alma e coração.


06-06-2005

A razão da poesia!...

Porque a paixão move o homem
e o homem move o Mundo,
e por este seguir em desordem
por o primeiro ser iracundo,

Ao Homem impôs-se duas acções;
dizer da frieza da racionalidade
ou sonhar o Éden em seus corações;
luta feroz que trava nesta dualidade.

Daí que apareçam muitos poetas,
porque dizer o que nos vai na alma
de atitudes erradas tomadas por certas
é uma angústia que a poesia acalma.


06-06-2005

Pedido de Namoro

E seguia-te os passos e via-te sorrir
e seguia-te as ancas e via-te sorrir
e seguia-te estrada fora...seguia-te...
e seguia-te na demora... perdia-te!

Onde foste a quando da demora?
Por onde saíste rica senhora?
Sózinho fiquei à esquina à espera...
triste fiquei; quem o faz desespera!

Naquela casa, quem é que lá mora?
Pergunto curioso se já namora!
Que não, não senhor, foi só um recado;
que bom, que bom..., posso ser seu namorado?


06-06-2005

Perfume

Havia festa na praia, Março e verão,
o carrosel partia subindo e descendo;
pulicando seguia-te o meu coração
e o nó na garganta subindo e descendo.

Trazia-te o ar da noite quente,
graciosa no teu vestido decotado;
o perfume demarcava um halo ardente
que eu seguia cauteloso e admirado.

Seria perfume ou poção mágica
aquele olor poderoso e inebriante,
aquela mescla quimica e antálgica?

Fosse o que fosse, era reconfortante,
tirava-me as canseiras e a dor,
libertando-me a amar-te com ardor.


06-06-2005

Da memória vêm acções

Da memória vêm acções
que se realizam em palavras,
como os combros das lavras,
sulcam-se em actos e acções.

Resistirão ao agreste tempo?
Assim se dedique o agricultor,
como abelha ao nectar da flor,
nela trabalhando sem lamento.

Serão ternas, de dor ou divertimento,
consoante se detenha o seu pastor
olhando o umbigo ou o firmamento.

Serão tantas mais quanto no amor
tenham crescido e dele feito vida
e a sua alma noutros leve repartida.


06-06-2005

Pedido de Namoro

O caminho não é longo,
nem tem perigo de olongo...
serpenteia pelo mato,
é já noite, vou com olhos de gato.

Vou seguindo a direcção
que manda o meu coração;
acompanha-me o pio do mocho,
lesto d'início, vou agora cocho.

A lua vai despontando
e sigo pelo seu mando,
eu que no medo não me arrepio,
ao que vou, vou sem pio.

Seguindo o belo luar
venho dizer muito amar
à mãe da minha mulata
que me aguarda na cubata.


06-06-2005

Esplanada

Lá continua em obras
a melhor Esplanada das eleitas,
não dá para ver, nem sobras
de um par de pernas perfeitas.

Vi o carpinteiro Libanca,
que apareceu esbaforido,
dizendo com uma carranca
estar bastante ofendido;

É que as mesas não chegaram
e o trabalho não foi feito;
vai dái, não lhe pagaram,
e que desculpasse o mau jeito!


06-06-2005

Sedução

Seduzido pelo teu encanto e mistério
que acetina e rebrilha a tua existência,
sigo-te embevecido e sem consciência
de por onde vou, do real ou do sério.

Deslizando os meus olhos pelo teu corpo
e enebriado pela nascente do desejo e perfume,
sigo o teu halo que me atrai como o lume
ao faminto na refeição que lhe dá recobro,

Vagueio extasiado ainda horas depois,
perdida a fome porque és viver,
perdido o sono porque és mulher...

Vagueio na tua recordação abraçado,
como jovem, muito jovem enamorado,
que se vê na vida sem o depois.


04-06-2005

Despertador

Arranjei um despertador alado
e pelos vistos bem disposto;
não é muito ao meu gosto,
a vantagem é ser barato.

Já vi que é malandreco,
do tipo vaidoso e fanfarrão,
presumo que abusa do garrafão,
que lhe dá um spide do caneco.

Na hora que lhe dá na veneta
faz-me cada voo razante,
volteia e aterra de rompante
e num ápice levanta a avioneta.

Esgotei as balas da anti-aérea
a todos escapou com desenvoltura,
ufano ri-se sem uma beliscadura,
por me saber sem jeito na matéria.

Se um dia destes ao aterrar,
se distrair na sua algarviada,
nem que eu leve uma lambada,
outra vida o malandro vai chatear.


04-06-2005

Esplanada

Continua fechada a Esplanada.
Acho que é para limpezas,
ou então mudança de mesas,
que a fórmica está estragada.

É, deve ser, porque vi o carpinteiro
e o ajudante, o velho Libanca;
agora que da porta tiraram a tranca,
começa a chegar-se o useiro.

Os problemas vão ser com o pintor:
o cunhado Blau não o pode ajudar,
e ele não sabe o que é tinta nem pintar,
é só um português no desenrasca e amador.


04-06-2005

Catuitui

Saltita catuitui, saltita,
esvoaça catuitui, esvoaça;
diz-me aí do alto o que se passa,
segue-a, e sê a minha vista.

Descortina-lhe livres caminhos,
dá-lhe rumo sem presentir
que de mim foi enamorado pedir,
como de teu cuidado são os ninhos.

Leva-a em tuas asas, se preciso for,
delicada e cuidadosa não te ferirá,
não lhe digas quem sempre a amará,

Nem que do sol e da lua, se preciso for,
luz de mil anos que sejam guardarei
para que na Noite dos Tempos seja seu Astro Rei.


04-06-2005

Pelos Teus Cheiros

Pelos teus cheiros fui seduzido,
em teu encalço me tenho vivo,
terra minha, meu arquivo
de quanto sou por ti produzido.

Em teu corpo me acariciei,
em tuas curvas me perdi,
em teus olhos me revi...
caminhos em que revigorei.

Teus cheiros longe me levaram.
Do Vale do Rift ou Kilimanjaro
chegaram Bantos... povo raro;

todo o centro e sul d'África sulcaram
e gentes belas, diferentes e especiais
deixaram pela terra dos meus ais!


04-06-2005

Flórida

E foi naquele dia, na Flórida que,
finalmente me enchi de coragem,
e pela primeira vez me sorriste, o que
te fez destino e romagem.

E foi assim, numa troca de olhares,
que os nossos corações se sobressaltaram,
e à mesa do café me juraste amares
os meus olhos, que enternecidos exultaram.

De mãos dadas comemos a torrada,
e o chá ficou porque não havia mão;
o amor não se queria fora da mão dada,
nem os olhos criam ser verdade ou não!



04-06-2005

M E R

Medito
Escrevo
Rasuro


Se nem em mim acredito,
e no que faço não há esmero,
natural é, que nem eu me aturo.

Mas se por milagre bendito,
as amarras da cultura de que sou servo,
se rompessem e entrasse ar puro,

Então este olhar desconfiado maldito,
este cisma das raças que não prescrevo,
estas religiões alicerçadas no impuro,

Justificariam o que medito,
guiar-me-íam no que escrevo
e não existiria o que rasuro!



04-06-2005

Pousada Da Leba

Seor Soba Vinhas,
como é então? Tá no ir,
o carro tá partir no Quipiri,
Soba não divinhas?

Ué!, tá dormir ainda!
Ih!, noiti di farra, não...
Ah! cama da Pousada..., então
dá berrida que nem Caínda.


04-06-2005

Se aos outros fizeste rir

Se aos outros fizeste rir,
como a mim me aconteceu,
o amarelo que o Valério te deu
já resultou..., vejamos o porvir!

O quarto por ti requerido,
não está bem localizado;
a ti quero-te bem instalado
e em verso comedido.

Guardei-te um alto, com mais ar,
e porque sei das tuas extensas letras
reservei-te um par de canetas
próprias para te refrear.

É um quarto amplo, jeitosinho,
com minha amizade e respeito,
com uma mesa posta a jeito,
à tua escrita, e mobilado com carinho.


04-06-2005

Mulher

Mulher,
Mulher!
Quem de ti não souber
Mulher,
como pode querer-se
no Mundo
Mulher,
se és tu esse própio
Mundo,
Mulher!


04-06-2005

Se Fosse...

Se fosse mulher,
pariria em louvor
à Natureza
e ao novo Ser;
fá-lo-ía com Amor,
mesmo na raiva e na dor...
por Deus assim querer,
se fosse Mulher...

Mas como sou Homem
Senhor,
louvarei a Mulher
penitenciando-me da dor;
dar-lhe-ei carinho e amor,
e o que ela quiser
Senhor!


04-06-2005

Sou

Sou mau feitio assumido,
e assim me sinto bem,
e outras coisas más também,
como uns pós de presumido.

Seja ou não seja preciso
sinto-me bem a protestar,
não há nada como estragar
a um sensato o juizo.

Com este mau feitio de profissão,
radiante da vida me sinto,
a realidade troco e minto
ao sabor da minha disposição.


04-06-2005

Meus Versos

Os meus versos
são em parte o meu ser
e também presunção
do que julgo saber.
Coisas da imaginação,
que vêm à tona,
de sopetão..., uma faísca,
e a mente mandona:
«risca, risca.»

Acontece,
e pede o coração,
e a alma tece
as linhas da redacção.
E os versos vêm e saem,
lá do fundo, sentidos,
como de uma mãe saem
pelos filhos, gemidos.

O meu poema
é um ser imprevisível,
sei como começa
e nunca como acaba;
mesmo no risível
ou num de promessa
escondem-se os versos na aba
do sonho e da surpreza
ou de uma Musa, com certeza!


04-06-2005

A beleza deste Hotel

A beleza deste Hotel
é tão só o amor,
quatro letras que balizam
o sentido à vida:
a Amizade companheira,
nada tendo de interesseira;
a Mocidade da alegria
em soro do dia a dia;
a Origem do homem,
paixão e não desordem;
a Recordação, o melhor pão
que alimenta o coração.

O gerente que é um primor
em serviço de primeira, sedutor,
abala-me com a publicidade
à Pousada: acreditem ser da amizade,
porque o serviço tem um atraso
própio dos calmos, é o caso...


04-06-2005

Maternidade

Ah! Ofegar, ofegar,
ao que me levaste, amar!

Ah! Gemidos, gemidos doridos...

Ah! Gritos de dor e louvor...

Ah! Raiva gritada, na hora esperada...

Ah! Gritos de alegria, quando já saía...

Ah! Alegria a chorar no primeiro respirar...

Ah! Gemidos paridos, que alegria tê-los tidos...

Ah! Natureza, como gritas com beleza...



03-06-2005

Nascer

Nasce uma criança
renasce o mundo
com esperança
num revigorar profundo.

Nasce uma criança
renasce a emoção
no mistério lembrança
da vida e da razão.

Nasce uma criança
renasce o calor
e até a temperança
em novo amor.

Nasce uma criança
iluminam.se os céus
de círios de bonança
e de alegria sem véus.

Nasce uma criança
Renasce a Esperança!


03-06-2005

Não entendo a tua exigência

Não entendo a tua exigência.
Ainda há pouco falava bem de ti,
e agora vejo-me na contigência
de desdizer o que vivi.

Ah!, entendi, querem que me digas
que me perdoam e fazem as pazes.
Ah!, como eram belas essas raparigas,
e que malandros fomos em rapazes...

Que delícia vê-las a passear
nas suas mini-saias e decotes,
e nós em uníssono e morativo suspirar
encostados às montras em magotes.

Oh!, ansiado fim de tarde domingueira,
montra da roupinha e cabelo arranjado,
pintada, vaidosa, provocante e altaneira
se passeava a menina para nosso agrado.


03-06-2005

Rua do Picadeiro

Foste rua palmilhada,
vezes e vezes sem conta;
foste na vida a minha estrada
e do amor a montra.

Percorri-te, oh!, tantas vezes ensonado,
quantas e quantas de fastio
companheira. De mim, enamorado,
ouviste tormentos e martírio...

E foram tantas e tantas vezes,
que me recolhi à tua alma
e em teus conselhos adquiri calma,

Que hoje, vejo-me ainda por vezes,
em sonho estranho e verdadeiro
a calcorrear-te, Rua do Picadeiro.


03-06-2005

O Higino e o Necas

O Higino e o Necas
querem quartos com varandas,
mais não me peças
qu'inda ando em bolandas.

Está em obras o primeiro andar
e em pintura parte do alpendre
quase nem consigo jantar
pelo tempo qu'isto me prende.

Venham sempre que queiram
ao almoço, ao jantar ou serão,
tragam-se em vossas maneiras,
à Huìla voltemos na emoção.


03-06-2005

Zé Luis, só fiz o que pediste

Zé Luis, só fiz o que pediste,
que a minha cara visses;
os poemas estão aí, escrevi-te,
as Ninfas são minhas misses.

Quanto ao quarto da Pousada,
serás sempre bem vindo.
Como sabes é guardada
a discrição..., e por alindo
pede-se carta não baralhada.
O que noutros fios é bem vindo
à Pousada pode ser maçada,
e para que te apareça em estado lindo
não façamos trapalhada.

Obrigado Zé Luis,
pela tua consideração,
irmão que me quis
à janela de chipalão.


02-06-2005

Esplanada

A esplanada está fechada
para descanso do pessoal,
segiu outro rumo a passarada
na busca de outro pombal.

Mas este é mais sombrio,
posto ali à esquina,
ventoso, torna-se frio,
foge tudo o que é menina.

Ficam os meninos sorumbáticos
agarrados às camisolas,
e como são fanáticos
divertem-se com as bolas.

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É questão de um dia ou dois
ou de três ou de quatro
cinco ou seis ou depois
do cento mais que um quarto.


02-06-2005

Avô ?

Sabes o que é bom no amar?
É ter-te do outro lado e dizer,
penso em ti, meu amanhecer,
minha vida, meu filho, meu ar.

Que na hora de seres pai,
à tua mulher te abraçes,
que o teu coração também vai
alegre, de multiplas faces...

E no filho que ambos geraram
se manisfeste o vosso amor,
reafirmem o que juraram,
peçam ajuda a Deus Senhor.

Amar, num intenso amar,
é algo que mais tarde terás;
bendito o filho, nele verás
como se quer quem tanto vem dar!


02-06-2005

Obrigado, meus queridos amigos

Obrigado, meus queridos amigos,
são estas as alturas da vida
em que nos damos por ouvidos,
que nos damos noutra partida...

É isto o belo na natureza,
o saber-se que um começa
e que o outro pede certeza
que ao partir ele não se esqueça.


02-06-2005

Antemanhã

Ah!, antemanhã
que me acordas e me levas
sonhando
por vales e serras;
as palpebras fecham
o sono aperta
mas a tua luta não é vã
e tiras-me das trevas
sonhando
amores que encerras!

Ah!, entremanhã
que me acordas à vida
nesse sol adivinho
de um dia quente;
e me cerceias a despedida
daquele miminho
oh!, daquele beijo ardente
qual titã
em luta renhida
em cama quente!

Ah!, alvorada
sei que o nascer do dia
nos leva a caminho da noite
a um sono retemperador
e que naquele dia
ela queixando-se foi-te
dizendo do seu amor...

E agora alvorada, agora..., alvorada,
tiras-me a minha amada!


02-06-2005

Maramar

Vejo-te mar encapelado,
sinto-te ventos ululantes,
assusta-me ser tão amado
em momentos assaz gritantes.

Vejo-te mar sossegado,
sinto-te numa leve brisa,
que bem me sinto afagado
em Vénus, teu monte que bisa.

No mar, na sua imensidão,
voa imponemte albatroz
vai alquebrado meu coração
voando deste amor atroz.

Lá longe, nessa visão sem fim,
leva minha ira um alado;
querias em mim um arlequim,
vai meu amor sonegado!

Naquela onda encapelada
vai um surfista em movimento,
o vento leva minha amada...
não ma tira do pensamento!

Atrás da onda outra virá,
passa o tempo, é já poente,
por quem minha amada andará
surfando neste mar persistente?

Espreguiça-se o mar na areia
eu desfilo minhas lembranças,
dele não me vem outra ideia,
recato-me em esperanças!

Espraia-se e serpenteia,
persiste no comportamento,
desejar-te foi contra - ideia,
dessossego do pensamento.

Vem a onda de que bravura,
em seus respingos me salgo,
lavo na noite que perdura
o meu rememorar amargo.

Estática e brilhante
vejo-te neste mar de prata,
por mais que te sonhe e cante,
teu querer-me não se reata!


02-06-2005

Vento

O vento é um mensageiro
da bonança ou da borrasca,
da boa chuva que se afasta,
do pó solto em terra de sequeiro.

É um encobridor interesseiro
traz-nos a nuvem que dá sombra
e à noite assobia e assombra
como livre viajante e guerreiro.

Acelera em voltas e remoinhos,
rápido fustiga ou estanca;
moderado move moinhos.

Em brisa, dissimulado, qual carteiro,
bate e entra na porta sem tranca
dançando casa adentro desordeiro!


02-06-2005

Espelho

O espelho em que me miro de manhã
é um reles contumaz mentiroso,
fazendo-me passar por tal afã
na tentativa de um ar mais jeitoso.

Penso que já o vi a dançar o cancã
-- e eram altas horas da madrugada --
quando tentei esforçado em luta vã
resolver a acidez da jantarada.

O malandro não se compadecia,
nem se dignou acudir o vizinho,
estático, gozador, só se ria...

Vinguei-me com raiva e apaguei a luz,
mesmo assim foi dizendo: «é do vinho,
já sabes que em demasia é de truz!»


02-06-2005

Vergonha

Eu que bem sei a razão
e o porquê dos horrores,
trago-me em tal senão
fugindo a tantas dores.

Eu que bem sei do mal
e o porquê dos adeptos,
finjo que é afinal
por sermos ineptos.

Eu que bem sei da verdade
e o porquê da escusa,
aceito a falsidade
e cumprimento quem a usa.

Eu já não tenho vergonha
e sei porque sou um trapo,
com o mal e a peçonha
em civeldade fiz trato.


02-06-2005

Pede-me

Pede-me a dor que te diga amor
pede-me a alegria que te sorria,
que te ampare escolhendo a melhor
conversa e companhia.

Pede-me a tristeza certeza
pede-me o júbilo conúbio,
que repare no interior da tua beleza
e nela me ampare no infortúnio.


02-06-2005

Carnaval ?

Essa desesperança que me aniquila
nessas relações humanas em desespero,
que vem corroendo valores e se ancila
ao mais despudorado jus de tão fero;

Esse desrespeito que me angustía
da elementaridade da razão,
na persegução da riqueza de um dia,
olvidando o ensinamento da humana compaixão;

Essa forma moderna de irmandade
alicerçada em famílias politicas e económicas,
representada para plateias trágico - cómicas,

Travestidas na emblemática liberdade;
esse arrazoado todo é o quê afinal,
senão diabinhos em full time de carnaval?


02-06-2005

Consumição

Consome-se o rapaz
porque a moça não aparece,
bem sofre o rapaz...
reza baixinho uma prece.

Consome-se a moça
porque o rapaz não obedece,
bem sofre a moça,
por quem não a merece.

Consomem-se os dois
cada um a seu modo,
prometendo para depois,
seduzirem-se sem engodo.


02-06-2005

Carta de Amor

Vai e volta na volta do correio
a carta de amor que te escrevi;
não sei se o carteiro é matreiro,
ou se leu e ficou com pena de ti.

A carta é curta e diz somente
que amar-te assim é tortura,
e o pedido que te faço clemente,
é meu bálsamo à amargura.

O sol, a lua, o sono és tu,
o ar, a terra, o mar és tu;
O mundo roda, és tu o eixo.

As trevas, o labirinto, sou eu,
noite cerrada que não amanheceu;
a ti, estrela da vida, me queixo.


02-06-2005

O Homem

Sente o homem o cheiro
da terra e do ar,
e tudo por dinheiro
é capaz de esfrangalhar.

Sente o homem o cheiro
de que algo está podre
mas esquece no tinteiro
de fazer algo sobre.

Sente o homem o cheiro
do mar, da maresia,
em sabendo do pesqueiro
é um ar de rasia.

Sente o homemo cheiro
da chuva - que cai do ar -,
nas águas límpidas do ribeiro
vai o lixo a despejar.

Sente o homem o cheiro
por todo o lado, da podridão,
mas não é dele o vespeiro
nem foi por sua acção.

É um homem cujo cheiro
se cheira a si mesmo,
vai contente, fragateiro
e horrendo, por aí a esmo.


02-06-2005

O Homem

Como soi dizer-se
ele não é flor que se cheire
sente melhor perder-se
que deixar de ser matreiro.

É mau e rabugento
sabugo do pior
nem com bom unguento
passaria a senhor.

É o homem no mundo
na fome de felino
não deixa de ser imundo
e esfrangalha num desatino.


02-06-2005

Foi Ontem Que Te Vi

Foi ontem que te vi altas horas da madrugada
ias galhofando, entretida com as tuas amigas,
(que transformaram o nosso amor em disputa pegada)
quem sabe, continuando as mesmas intrigas.

Se a alegria que manifestavas era sincera
então é verdade que as promessas que fazias
eram tão verdadeiras como o futuro ser desta era;
assim te entretinhas, assim te comprazias.

Mas se a alegria era falsa e representavas,
então é verdade o que os amigos me diziam:
que eras fogo efémero saltimbanco e não prestavas!

Mas, como os poderia ouvir, se me seduziam
os teus gestos, a tua palavra, a tua boca,
e a minha vida rodopiava, rodopiava como louca!


02-06-2005

Frio Vento

Sopra bem frio o vento
traz encrespado o mar
tal é o meu pensamento
desespera por te encontrar.

Roda a direcção do vento
cavalgando as ondas do mar
roda triste o sentimento
por te ver fugir ao meu olhar.

Fustiga com força o vento
pede o pescador bonança
o mesmo faço em lamento
peço aos anjos esperança.

Amaina em brisa o vento
reaparecem as gaivotas
aguardo o feliz momento
que acordas e para mim voltas


02-06-2005

Alentejo

Silêncio na planície sem fim
sombra de um milhafre pairando no ar
cheiros de esteva e alecrim
pedras no leito seco do meu amar.

Seara amarela ondulante
monte branco e azul pintado
até à azinheira distante
ciúme em meu peito lavrado.

Um sol forte, quente e ofuscante,
uma brisa fresca e benfazeja,
em miragem te vejo provocante.

O pastor, o gado, seja quem seja,
sofre sob este sol inclemente,
esfuma-se meu coração candente.


02-06-2005

Memória Traiçoeira

Mas oh! deuses, este martírio doce
do embalo numa morna verdeana
que seus seios a memória trouxe...
Oh! céus, incandescente chama...

Dizei-me da feição da loucura,
seus hábitos, seu campo de pasto,
dai-me esperanças de brandura,
um farol..., perdido sigo seu rastro!

Já pouco mais sou que viandante,
sonho interrompido frustante,
alma penada no mistério:

Da verdade ou alucinação,
purgatório ou refrigério,
insciente ou imaginação?


02-06-2005

Tem molho

Tem molho
tem piripiri
tem samba
tá no iri
meu kamba
agarra ainda
lá na rebita
tem cafeco
tem m'boa
tem rumba
tem bunda
tem à toa
cuca gelada
dá só na namorada
tem catita
rebolada
olha só
essa dona
meu, mi dá dó
na antigo
se gozava...
vinha comigo
casou, cresceu
virou mandona
não quer mais eu
ihhh! mais aquela alí
eu qui vi primeiro
não arma zaragateiro
como é, ti fisguei
não tás sentir a chifuta
queres luta
queres fruta
como é m'boa
vou ficar à toa
me dá só esperança
tu és meu bem
me porto bem
só esta dança
aka! m'boa
precisa ficar leoa?


02-06-2005

Baile

Corre o regato para o rio
corre este ao grande mar
caminho eu cheio de frio
sem ninguém para abraçar!

O regato tranquilo sabe ao que vai
o rio por ele abraçado também,
levam a saudade à tua rua, ai,
levem-me deste martírio também!

Já o mar vos espera salgado,
certamente pelo suor do vosso correr;
bailem juntos num tango animado,

Que eu bailarei um tango saudoso,
eu e eu, juntinhos, mais o meu sofrer,
lembrando tempos dum bailar gostoso!


02-06-2005

Esperança

Assim como o mar te invade
areal que as águas vêm lamber,
também o meu coração se invade
ferido por línguas de maldizer.

Como a praia é limpa pela maré
ao beijar a onda a areia,
assim se renovasse a minha fé
que ao beijar-te mudasses de ideia.

No mar alteroso vês a verdade,
em mar chão, raiva e desconfiança;
suja espuma não é inverdade!

Jogo adulto com leis de criança,
ficam-me mágoas com a idade,
já o tempo levou a esperança.


02-06-2005

Que

Que se esgote do sol a luz
que pare da lua a rotação:
na escuridão verás a luz
que por amor meus olhos darão!

Que se apartam as águas do mar
e os peixes se perfilem em alas:
no meu corpo poderás navegar
façanhas que irei contá-las!

Que a terra se imobilize
e os animais selvagens perscrutem
do que na razão se realize
p'ra que teus ouvidos me escutem!

Que no ar se detenham as aves
em cores de arco-iris luminoso:
perdoa-me todos os agravos,
unamo-nos num beijo amoroso!


02-06-2005

Quem Dera

Quem dera ser o mar
ser água
para te enlaçar
e desabafar minha mágoa!

Quem dera ser onda
transparente
para que me não esconda
sofrido, clemente!

Quem dera ser maré
constante movimento
para que vejas como é
este amor encantamento!

Quem me dera ser oceano
vastidão
para dissipar este engano
e ter o teu coração!


02-06-2005

Sou o Que Sou

Quando penso no que poderia ser e não fui
no que seria se tivesse sido
imaginar-me noutra vida não consigo
sem os escolhos dos caminhos por onde fui.

Quando penso no que tive e me ensinou
doutros a torpeza, vilania e malvadez
e que o meu comportamento seria talvez
muito diferente do que me sinto e sou.

Quando penso que a vida me acontece
tortuosa e delineada sem eu querer
vindo donde, a alegria e o sofrer
e em ti minha fúria se enternece.

Então exorto o meu ser, e por aí vou
seguindo os caminhos onde esteja
essa encantadora Ninfa benfazeja
que me traz delirando e onde sou!


02-06-2005

Para que não me perca

Para que não me perca
e saiba onde estou
aqui darei abrigo ao que me caiba e sou.

Em versos ou em prosa
de alma em devaneio
a própria se glosa
levando-me pelo meio.

Será registo fiel ?
Eu não sei, quem o saberá ?
Direi da minha pele
a quem assim o saberá!


02-06-2005

A N G O L A

Disfarçando a angustia de tão longe te ver
retendo um lacrimoso nó na garganta
lanço aos céus suspiros que não consigo reter
entoando baixinho toadas que o povo canta.

O mar que banha os meus olhos de lágrimas
em fio, de horizonte de azuis infindo
lança às areias do deserto histórias apátridas
que as dunas em evolução as vão unindo.

O deserto que na chuva espargida ervedece
resuscitando vidas e cores que a natureza tece
odora os ares que na memória retenho.

A vida começa e acaba, qual circo da natureza
a saudade vai e vem em Siroco forte de tristeza
e as recordações brotam em rio de lágrimas que não contenho.


02-06-2005

MINHA PÁTRIA

Ah! Huila, Huila,
Terra dos meus encantos,
De povos tantos!
Sinto-me possuí-la,
Sempre que penso ou falo,
Nas suas gentes
Sempre contentes.
Que regálo,
Sonhando ouvi-la,
E poder senti-la
Nos exóticos odores
De quantas flores,
As mulheres muhuila.


Perfumaram
A minha infância,
E recusei com jactância
Os reprovadores olhares
Dos «civilizados», em seus ares,
Debitando daquele atraso,
Sem ver que daria azo,
A uma prova de insolência
O pôr a mão na consciência.


Ah! Huila, Huila.
Previa a bela cantiga
Que a doce rapariga,
Ao ouvido me dizia,
Que amá-la frutificaria
Uma paixão desusada,
Nela endeusada,
A minha muhuila.


Em ti é procurado,
Quando se fala no passado,
Se afugentam as dores
E se recordam amores,
O teu ar destinado,
Dizendo " Em mim se fores
Amável, comportado,
Amante e dedicado,
Receberás flores."


Foi em ti, Huila
Que sonhei, outro dia.
A Serra abrindo-se, sorria:
"Vem, devaneia meu amigo,
Sabes bem que contigo,
Voando vou sem rumo
Do meu destino, assumo".
Sorria a minha muhuila.
Ah! Huila, Huila.


02-06-2005

Á F R I C A

É África o sonho da minha vida
é Angola o rio que a serpenteia,
beleza a desaguar em praias de fina areia
na pele e paixão de gente sofrida.

É África o mundo do Mundo, o início
é Angola o cerne da minha existência
a chana, o mato, a montanha, o meu vício,
o mar, o Kunene, o Kuanza, minha valência.

O deserto, o imbondeiro, a avestruz
os cheiros, as bissapas, o catuitui
o sol quente que no orvalho reluz
o que noite fora em cânticos e sonhos fui.

Angola, paixão desmedida, louca e delicada
que na agreste quão bela "Terras Do Fim Do Mundo"
ou nas serranias da orgulhosa Lunda dilacerada
se passeia meu ser noutra visão do Mundo.


02-06-2005

H U Í L A

Foi no dia que soube que não eras para mim
que a minha vida mudou e o mundo deu uma volta
a minha alma despedaçada exigia revolta
mas o coração apaixonado chorava assim:

Ó terra bendita que tens os meus antepassados
gente boa, gente má, corajosas e obreiras
que te edificaram em sacrifícios chorados por carpideiras,
eu vou, mas o teu encanto cantarei em meus fados!

E assim tenho vivido no sono da indolência
com os verdes da Chela que ancila a minha paixão
e as cascatas e os frutos que me suavizam a aparência

E vou cantar-te até morrer, Huíla, numa canção
que te recorde e aos outros leve o teu encanto
e a lição do batuque do óbito em tradição e pranto.


02-06-2005

Pousada Da Leba

Aqui, neste planalto
a uma altura de mais de dois mil metros
sobranceiro ao deserto, ao mar,
às chanas e matos da Huila,
quero bem alto cantar
do meu amor por Angola
dessa saudade que evola
nos ares quentes do Namibe
nos frescos e saudáveis ares da Chela
nas madrugadas gélidas d'Agosto
na Humpata dos pomares com gosto.


Daqui, toda a Angola vislumbro
do cerrado e verde Maiombe
ao seco e árido Cunene,
das chanas do Fim do Mundo
às selvas frondosas da Lunda,
desse morro de Pungo Andongo
a esse mar rico azul e prata
que a saudade me mata
essa Angola, esse mundo
de história e gentes de cubata
pelo qual me deslumbro.


Daqui presto o meu preito
aos colonos, aos descendentes,
aos naturais , a todas as gentes
que amam a minha terra
-- cantando a tragam no peito
Vou daqui, do alto da Serra
levado pelo Siroco
que me fustiga e põe louco
por caminhos que não conheço
seguindo meu coração que obedeço
na poesia que minh'alma encerra.


02-06-2005

POUSADA DA LEBA

Altiva e sobranceira ao Namibe
pairando neste alto instalada
a alva Pousada da Leba
faz-nos graciosa chamada.

Deliciem-se passeando o olhar
por essa edénica paisagem
que eu da minha gleba
vos trarei farnel para a viagem.

Extasiem-se no sossego
inibriem-se nos ares e cheiros
de quem por estes montes trepa
descobrindo-se em virgens carreiros.

Que no piar do mocho noctívago
ouvindo o tumulto do rio na mulola
enternecidos no embalo do céu estrelado
em coro, de diferentes vozes, cantemos Angola.


02-06-2005

P E S C A D O R

O mestre chamou
e falou à campanha:

« cedo, na madrugada,
vamos em rumo norte...
não será muita a estada
se para tanto tivermos sorte.»

E a campanha retorqiu
o que do mestre ouviu:

« cedo na madrugada
rezemos a Deus por sorte,
e que a Santa Nossa Amada
nos acompanhe ao rumo norte.»

E ambos cantaram
e a Deus oraram:

« cedo na madrugada
iremos por nossa sorte,
ó Deus alumia a estrada
que nos dê pão e não a morte.»


01-06-2005

Esplanada

Nuvens altas esparsas
cadeira incomoda me coube
olho que mal disfarsas
o pedação visto, que bem soube.

Dry gin bem servido e geladinho
empregada hoje bem disposta
norueguesa malandra a fazer olhinho
a ver quem quer morder a posta.

Ritmo dolente de uma rumba
dedos tamborilando sonhadores a mesa
espero que meu coração não sucumba
e aguente firme loucura tesa.


01-06-2005

O Anjo Predisse

Passou um anjo por mim
e disse:
«que a vida seria assim,
uma chatice.»

Nela haveria de ter,
contou:
«muito para sofrer,
quem amou.»

E virado ao céu,
apontando:
«este condão te dou eu,
vai amando.»

O Anjo pairando
predisse:
«vai sempre cantando»
e se chorasse..., risse!


31-05-2005

Ó Mita

Ó Mita
a esplanada é assim,
nem sempre tem
coisa bonita;
às vezes, porém
arrebita,
e aí sim, aí sim:

o sol encoberto - é radioso
o céu nublado - é esplendoroso
as mesas cheias - é proveitoso
elas a passarem - é guloso
se me fisgarem - é maravilhoso.


31-05-2005

Hoje foi um dia da breca

Hoje foi um dia da breca, chuvoso,
primeiro morrinha, depois aguaçeiro;
não se viu nada, nem um traseiro,
nem um colo apertado e fogoso.

Ah!, mas vi pés descalços, na calçada,
todos molhados e arrepiados,
de unhas pintadas, tão bem tratados...
umas calcitas arregaçadas..., uma maçada.

Cabelos lambidos, molhados pela chuva,
caras tristes, maxilares tiritando de frio
e a rua turística, bem feita, imitando rio;

Hoje não deu, a fruta estava ensacada
e o vento aborrecido vinha de nortada;
valeu-me que trouxe do mercado boa uva!


31-05-2005

Cuido Que...

Cuido que sejas Maria,
meu amor quem diria,
que tanto ando por ti parado,
tão parado me dou andado!

Cuido que sejas Madalena,
meu amor de leve pena,
um fogo rápido e forte,
vento frio vindo do norte!

Cuido que sejas Manuela,
amor que por mim vela,
dizer-te que não ou que sim,
bate-te o coração sempre assim!

Cuido que sejas Luisa
meu amor que me ajuíza,
se me porto bem, desconfia,
se mal me porto, é todo o dia!

Cuido que sejas Judite,
meu amor eu fugi-te,
para louco bastava um,
os dois, íamos a lado nenhum!

Cuido que sejas Yolanda,
meu amor em bolanda,
ora ternurento e calmo,
ora ciumento com cara de palmo!

Cuido que sejam todas,
meus amores, minhas podas
da vida, que me leva satisfeito
de vos ter trazido, um dia, ao peito!


31-05-2005

Sorri à Madrugada

Sorriem os meus olhos contigo madrugada,
mal entreabertos, colados no sonho pela remela,
marca do orvalho gemido pela humidade dela,
no encontro da vontade na fruta açucarada.

Cantam os meus ouvidos os sons da noitada,
pulam e batem em frenesim o martelo e a bigorna,
o sussurro ofegante do ai, entrecortado, retorna,
embala-se no pavilhão e na mente a amada.

Saboreiam meus lábios os teus cheiros, doce amora,
manifesta-se a língua num estalo de satisfação,
o beijo dos beijos afagando em longa sucção...

Oh! beleza, oh! mundo ao avesso, não vás embora,
aquece-me em teus cabelos, encanta-me ao serão,
vem amor, mundo fora, vem, doce de amora.


31-05-2005

Co'a forma do portento

Co'a forma do portento
com o ar em que ficava
quando à moça se abraçava
na coladera do momento.

E o baile gira à roda
e já não dá para separar
quem tanto se dá a gostar
a quem baila e sabe da poda.


31-05-2005

Ei! Olhem lá! Esperem aí!

Ei! Olhem lá! Esperem aí!
Já tinha mandado a mukanda
quando de relance a vi;
uma que rebola o glúteo quando anda.

Oh! Deuses me acudam... assim sim;
valeu a pena esperar,
vê-la andar..., aquilo assim...
bailavam-me os olhos a acompanhar.

Ar fresco..., ou será ofegante...
tic toc, tic toc, os saltos a compasso;
donde vens vento? De que quadrante?
Qu'importa, se mais que vê-la não faço!


30-05-2005

Esplanada

Fim de tarde aborrecido,
assim, incompreendido,
de subtil mal estar,
embora de ameno ar.

Incomodativo...
Não as vejo passar
e fico pensativo...
é por demais... é azar.

Uma tarde inteira,
um apetite devorador,
e nem uma... à maneira,
passa, a fazer-me sonhador!

A alimentar esta chama
que da juventude trago,
este malandro que inflama
sempre que à uva tiro o bago.


30-05-2005

Zé Luis Higino

Zé Luis Higino
Meu irmão poeta,
obrigado atleta
da escrita e do .

Colega dedicado,
redescobriu-se em Janeiro
num fado cantado
em jardim Alte (aneiro).

Bem hajam ceias
que tal proporcionem;
com outras ideias
as mentes funcionem...

O Zé Luis descobriu
que fazia da rima
arma com que riu
e ferida que desatina.

Uma vez por outra,
lá pede desculpa...
se a tareia foi pouca,
mais liberto se culpa.

Na sua irreverência
verseja a preceito,
nalguns, com indecência,
bate a torto e a eito.

Já te vou conhecendo,
presunção e vaidade,
nesse coração mole
onde mora a alacridade.

Uma altiva jactância,
um ser sofredor,
que nos dá com ânsia
dimensão da sua dor.

Para não te imitar,
e um longo escrito não fazer,
contigo irei cantar
o que Maconge nos trouxer.

..................

Um Abraço Zé Luis,
faço o que consigo,
uma Ninfa me diz
que tanto a persigo...


30-05-2005

E fui

E fui
e vi
e estive com tanta gente
que me deixou contente;
não sou egoísta,
mas como posso dar a ver
a bela vista
que foi este conviver?
E se gostei,
oh! se gostei
de vê-los tão queridos
na lembrança entretidos
e gulosos
na sua mocidade vaidosos
que na sua entradota idade
baila sorridente a saudade.

É assim MACONGE,
uma erudição,
um sentimento que radica
lá longe, muito longe...
no coração...
que bem perto fica.


29-05-2005

Amor é um Caminho

Se o Amor é um caminho
ziguezagueante, largo, bem feito,
ou estreito, quantas vezes contrafeito;

ou aconchegante como do pássaro o ninho,
seja dependurado ou a céu aberto;

ou luz que alumia ora enfraquecida
ora cheia de energia enlanguescida;

ou como o visgo se gruda ao abeto,
e este erecto se ergue ao céu;

e tumefacto espraia a brandura
se preciso, em contraditória ternura;

e se noutros espelhos se desnuda do véu
recriando-se no todo e no particular mudo,
então Amor, sou tu, e tu és tudo.


29-05-2005

Veste-te poesia

Veste-te poesia
da minha alegria
e vem comigo
percorrer caminhos
por desbravar e virgens...

Vem pelas vertigens
de simples versinhos
que nos transportam às alturas
a abraçar ternuras...

Oh! poesia,
queria ser-te,
viver-te escrita
e poder dizer-te
alma minha
bendita!


29-05-2005

Vem daí gerente

Vem daí gerente
de mão atrevida
e suplicante,
ver da esplanada a gente
de saia curta bem garrida
e lábios vermelho picante.


Vem daí, do Hotel,
junta-te aos rapazes
confraternizando pelas mesas;
aproveita e traz o farnel...
Serão as moças capazes
de nos dar as sobremesas?

Vem daí, vem à roda
traz máquina fotográfica,
e não tragas um só rolo,
pois quando as vires nesta moda
quais ninfas de África...
guardemo-las p'ra nosso consolo.


27-05-2005

Beijo

Vem do peito calor ardente
vem do peito agradecido
aquele beijo entontecido,
num viajar cadente...

Naquele beijo surpreendido
duas fontes, duas nascentes,
um riacho de presentes
num poente aquecido...

Um beijo num leve toque
tremente de surpreza
balbuciante de beleza
com o coração a trote...

No beijo que é o beijo
gira a vida, gira à volta,
gira a volta... solta,
em paraíso e desejo


27-05-2005

Esplanada

Um sol poente reconfortante
em raios de cabelos doirados
afaga a mulher amante
apertando lábios inchados.

Bebericando fresca água
passando os dedos pelo copo
revê-se no dia à beira da água
em que ambos foram um só corpo.

O sol cansado, no horizonte
a sede morta de um trago, num gole
numa praia que um dia conte
do falo tomado num consolo.

A esplanada acorda ao poente
a água não refresca a quentura
rapazes apessoados com que pente
a matrona pentando aventura.

Um sol já posto, lusco-fusco
o gelo no copo a tilintar
a fêmea num olhar molusco
na esplanada a levitar.

O sol já era, dia encerra
suplicante respirar pressinto
palpitante colo que gera
geral erecção que não minto.


27-05-2005

Corre Memória

Corre memória
pelos caminhos do tempo;
não precisas ser veloz,
traz-me só, na tua voz,
o rememorar a tempo,
para rever a história!


Vai memória
e busca lá no fundo
a recordação de quem
o sonho me leva ao além
- orfão me deixaram no mundo -
ao início da minha história!


.......................


Orfão sou
de um amor que muito me quis
que o tempo levou
e nos juntará feliz...


27-05-2005

Ensinou Fernando Pessoa

Ensinou Fernando Pessoa
em quadra predicta
razão que forte ecoa
na alma de poeta dita.


Sofremos? Os versos pecam.
Mentimos? Os versos falham.
E tudo é chuvas que orvalham,
Folhas caídas que secam.


26-05-2005

Dizer do que nos vai na alma

Dizer do que nos vai na alma
reflectir no que sentimos,
rimo-nos da castigada alma
choramos quando nos rimos.

Choramos de outro sofrer
rimos de outra alegria,
ao triste alegre se faz crer
no riso por companhia.

Choramos o nosso sofrer
choramos a nossa alegria,
rimos para não doer
rimos senão mentir-se-ía.


26-05-2005

Delícia de Sonho

Fugia, fugia, pelo meio do arvoredo,
fugia, fugia e as pernas já não sentia;
ria, ria..., ria já sem medo,
quando vi quem me perseguia!

Mas não parei, continuei a fugir, a fugir...
quanto mais te via, mais fugia, porquê, não sei;
e ria sempre que me lembrava do teu rir
em cada pedaço do teu corpo que desnudei.

Em cada suspiro, em cada ai, fugia,
qual montanha russa d'ânsia e euforia;

Vencia-te, tentação, num fugir lento,
qual tunel do amor abrindo-se sedento;

Mas, oh céus, já eras a minha perdição
e fui carrossel num sobe e desce de sensação.


26-05-2005

Amizade

Os rios correm ao mar
o mar corre às nuvens;
o vaidoso é incapaz de reparar
que as peneiras não medram, são penugens.

As nuvens protectoras, ou são sombra,
ou benfazejas lágrimas de água pura;
a amizade sincera não se compra,
envolve-nos de ralhetes e candura!

Escorre a água por campos e vales,
ao rio torna água de levada;
vai o homem p'lo bem em senda fadada...

Canta e ri e espanta os teus males,
abre-te aos outros em gargalhada;
chora para mostrares quanto vales!


25-05-2005

Meus Queridos Amigos

Seria hoje..., o que seria,
se de vocês carinho não tivesse?
Seria animal? Homem, não seria,
se em vosso coração não me houvesse.

Seria o quê, com que pareceria,
se por aqui andasse à bolina...?
Sem o vosso ombro amigo choraria
lágrimas ausentes de outra retina!

Seria algo que nem quero imaginar,
seria outro..., fruto em meio agreste,
mirrado e seco, pobre exemplar;

Sem um peito que se preste
em aconchegar-me na alegria e tristeza,
nada seria -- amigos --, com certeza.


25-05-2005

Esperança

Foi com alegre esperança
que te confiei o segredo,
Musa da linda trança
que me guia os passos sem medo.

Vai o meu destino senhora,
distraído da menor acção...
só teu perfume nele mora
e o teu corpo lhe dá razão.

Sigo os teus conselhos Musa,
alindo-me e vou bem disposto,
a ver se olha pró meu rosto...

Mas ela diz que já se não usa
e galanteios não são seu gosto
e deu-me esperança confusa!


23-05-2005

Esplanada

Sentar numa esplanada e observar quem passa,
entrar nas suas mentes e possuir os seus corpos,
é exercício revitalizante com ar de sua graça,
saber doutros pensamentos quando os nossos são tortos.

A moça que passa, de salto, vaidosa, valorizando a anca,
o jingão que segue atrás dizendo piropos atrevidos,
o quarentão que come com os olhos e não vai porque manca,
e os putos que não sabem o que é bom, gozando divertidos...

Oh tempos que já lá vão de raro doce ou sorvete,
passe menina...por favor donzela... por quem seja senhora...
a mini-saia passa, o olho fisga e a mente malandra promete...

Resistir na esplanada à vontade de ir embora,
é sacrifício que tortura, ver tanta mulher madura
passar desenvolta, à minha volta, com tal formusura.


23-05-2005

Muhuílas e Mucubais

Se algo aprendi na minha juventude
quando perdido andava de amores,
foi que na mulher a beleza, a virtude,
a fealdade, são tudo bons valores...

Conversando um dia com o Capenda
(cozinheiro de casa e companheiro de meu pai),
sobre as namoradas, me disse: "Aprenda
minino, ouve mais e vê só no coração dela, vai..."

E assim, fui compreendendo pela vida fora
que a beleza física é muito mais passageira
que a beleza interior que nos enamora.

E nesta singela lição de vida, verdadeira,
quero amar as mulheres da minha terra,
belas, não tão belas... o meu coração vos encerra!


23-05-2005

Walter Teixeira

O mundo tão grande
no bairro aqui perto;
se a amizade for grande
há saudade decerto.


Meu querido companheiro de tertúlias,
meu estouvado colega de turma
que cantava às moças uma a uma
e as trazia apaixonadas em lamúrias.

Se desta vez não te vejo
e não pomos em dia a conversa
bem podes munir-te da compressa
pois vais levar com a carqueja.


22-05-2005

Jardim de Cardos

Se um dia eu te falar
o que me vai no pensamento,
vais por certo me abraçar
e pular de contentamento.

Mas, por favor, não exageres
o engôdo em que ando,
quando às outras disseres
como rastejo a seu mando.

Dá-me alguma dignidade;
conta-lhes do meu jardim...
que a flor novidade
tem de ser regada assim.

Não lhes digas dos amargos
em que me tenho e sinto,
nem que vou regando os cardos
com lágrimas que minto.


20-05-2005

Realidade ou Engano ?

Dizer-te que te quero
é fácil,
já tive oportunidade!

Dizer-te que te amo
não é fácil,
e muito mais complicado!


Dizer-te que te quero,
que te vejo ao sonhar,
e em insónias desespero
por Morfeu não o deixar,

é fácil
já tive oportunidade!


Dizer-te que te amo
que me não concebo viver
a teu lado num engano,
que só nos iria fazer sofrer,

não é fácil,
é muito mais complicado!


Dizer-te que te quero!
Dizer-te que te amo!
Realidade ou mero
desejo carnal e engano ?


19-05-2005

Realidade

Não me digas a verdade,
não me fales a sério;
deixa-me na saudade
entregue ao mistério...

Recordando o teu perfume
sinto jovialidade
e o sangue corre em lume.
-- Esta a minha verdade!

No teu hálito doce,
no teu corpo, no teu peito,
de noite... no teu leito;

Que sonhasse... antes fosse,
a esta realidade...
Não me digas a verdade!


19-05-2005

O poeta é um fingidor

O poeta é um fingidor
quando fala na dor que tem.
Da dor que tem a sua dor
conta-a como se de ninguém!

O poeta é um fingidor
esquece a dor que trazia
sublima-a sonhador
conta doutros a alegria.

O poeta é um fingidor
conta que vê o óbvio
e di-lo sem destemor
como se de simples ócio.

O poeta é um fingidor
diz o que outros escreveram
ou canta que vem a sua dor
da fonte que ambos beberam.

O poeta é um fingidor
e assumido se sente
incorpora dos outros a dor
e sofre por toda a gente.

O poeta é um fingidor
no que se passa e sente
se quer esconder o seu amor
rima outra rima e mente.

O poeta é um fingidor
nêncio, bruto, inocente...
Ou o poeta é fingidor
arguto, sensível, amante?...


19-05-2005

O Poeta É Fingidor

Dou por mim
que o poeta é fingidor
ou não entendo...
por que assim
me tenho na dor
e no lamento!`

É fingidor
e para aí apontam
as canções...
que tanto amor
nos contam
e emoções!

É fingidor
em seu engano
em sua razão...
pois é sonhador
do seu "hermano"
em seu coração!


19-05-2005

Amigo

Vivemos, existimos,
agrupamo-nos de que afinidades?
Umas há, simples, puras
somente de amizades
diferentes vidas duras...
Coexistimos...

Na sociedade estratificada
campo fertil da separação
do que na humanidade
deveria ser união
simples e singela razão
de viver em comunidade
o outro é igual a ti, teu irmão
trata-o deferentemente
é como tu, gente
mas a superioridade
velha bactéria pustulenta
que vive da vaidade
e em pobre espirito se alimenta
pavoneia-se incólume
segrega-se em casúlo
tudo digere, tudo consome
fora dela tudo é nulo...

Só eu insone...

Mas há excepção
o amigo que encontrei
melhor que eu... ai se é
e quando o abraçei
senti Dele a fé
que era meu irmão
que ouve de Deus o sermão
e em cada reencontro
Ele mo diz sem complexo
num forte e sentido amplexo.


17-05-2005

Novos Valores

Há grandes mudanças na sociedade.
Os antigos valores execráveis,
desrespeito, desonra, impiedade,
estupro, são agora os notáveis.

Que valeu Cristo, Maomé e Buda,
seu despojamento e humanismo,
se pela ganância tudo muda,
se infere de valor o cinismo!


17-05-2005

Qual estridente grafonola

Qual estridente grafonola
com antigo disco riscado
são as crianças e a bola
num jogo de rua disputado.

As regras são as do momento
em gritaria e virote
quem perde não tem consentimento
quem ganha afina o mote.

Os perdedores berram, barafustam
os outros cantam vitória
as regras do jogo permutam

Do dono da bola a glória
perder ou ganhar só eu mando
elejam-me p'ra vosso comando.

14-05-2005

Natureza

Choram de alegria as nuvens
lágrimas apetecidas
pedidas, suplicadas
vidas agradecidas
nos campos derramadas.

Ervecem os prados
brilha intensa a luz
as fêmeas reforçam cuidados
o campo rejubila e produz
só nós somos estragados.

A Natureza com pouco engrandece
o homem de pouco é rei
destroi o que ela reverdece
impaciente, egoista faz a lei
indocível acha que a merece.


14-05-2005

Raio X

Raio x
simples encosto
encha o peito d'ar
não respire - pode respirar
ah!, fosse a meu gosto
encheria o peito d'ar
para num suspiro
expirar
a recordação do teu rosto
e de raio x
perscrutar o teu coração
saber se bate por mim ou não
se como o povo diz:
"o coração não tem olhos
mas a um amor dedicado
olha só p'ra esse lado."


13-05-2005

Que subas bem ao alto da serra

Que subas bem ao alto da serra
que tenhas o mundo na tua mão
que cantes assim a nossa terra
é o que te peço, do coração.

Que nos digas como sabes dizer,
que nos dês o «Não Tenho Nada»
escreve-o no Hotel p'ra se ler
dessa tua terra amada.


09-05-2005

Onde fica o Hotel

Em noites frescas de luar
há reunião de estrelas no Hotel
quadras e poemas doces que nem mel
soam batucadas a chamar.

Cantam pássaros à desgarrada
dizem poetas e poetizas
falam d'amores que profetizas
Huíla, matreira e descarada.

Hospedam-se em suites de cores,
roupas frescas, suaves e d'alvura,
ouvem-se estórias d'aventura

Contam-se caçadas e tremores
abre-se-nos o peito à emoção
cantamos a Huíla com coração.


09-05-2005

Tá Bonito

Até há quem já se babe...
e há também ciumento,
não se cala um momento
faz que sabe e não sabe

Não digo que não seja eu...
como doutros mal não se diz,
comeria a perdiz
se babado fosse eu...


09-05-2005

Verseja então p'rá Maria

Verseja então p'rá Maria
pede-nos a Paula Bessa,
eu até canto e dançaria
se me pedisse, homessa.


09-05-2005

Tás a dormir ó Chucha

Tás a dormir ó Chucha,
ou falta a tinta no tinteiro?
Não vês que o Tibi murcha
por Gondomar o ano inteiro!

Quem ao perfil do Tanetas for
vê por que lados anda
esse querido sr. doutor
no hospital de Luanda.

Como queres que seja
O Tanetas o Tibi,
se do Alfredo nem que seja
ao berlinde eu perdi;

O Alfredo, Tanetas seja,
o Tibi é quem eu previ,
o Ricardo, ou eu não veja
a embrulhada em que me meti.


08-05-2005

Tudo Muda

Tudo muda quando te vejo;
o sol trsite brilha mais,
o dia corre a desejo,
vivo como se em arraias.

Basta que me olhes e sorrias,
que me perguntes como estou,
que me dês alegres bons dias
o mundo pára, louco ficou.

Pára, e naquele instante,
só catuituis e seripipis
cantam do meu amar bastante
esse amor que me faz feliz.


08-05-2005

Mundo

Plantas e animais viventes,
ar, terra e água -- o Mundo,
céu, lua e estrelas cadentes,
um pôr do sol rubicundo.

Dia aberto iluminado
de ar húmido e radioso.
Noite de um luar prateado,
calmante, num beijo ardiloso.

Teus passos ressoam na calçada,
um perfume fresco inebria,
vestes-te de lua minha'amada...

A música em ti se recria,
minha fome é mitigada
o Mundo é cor e alegria.


08-05-2005

O que eu gosto

O que eu gosto,
o que eu gosto bastante,
é do sorriso no teu rosto
e que tua voz me cante.

O que gosto ainda mais
e nisso sou vaidoso,
são dos teus suspiros e ais
em noites de vir gozoso.

O que gostava e não sabes,
era amar-te, adivinha,
no mato, ao som das aves
do Jau, tua terra e minha.


08-05-2005

Ai que Calor

O sol, a praia e o mar
o sol quente e a areia
esses bumbuns a dar, a dar
sem máquina, fotografei-a.

Registou-se na película
insinuante amazona
e nem com esta canícula
a consigo tirar da mona.

Salva-me o banho de mar
em águas frescas, agitadas;
fujo assim de nelas pensar!

Canso-me em fortes braçadas.
Derreado, volto à praia...
que vale, s'ele já se ensaia.


07-05-2005

Hotel sem animação?

Hotel sem animação?
Ó irmão Zé Luis
então a tua poetação
é o quê? Como se diz?

«Bocagino» d'entrada,
uma critica a destilar;
ou sai bela charada
ou forte gargalhar.

A ti, poeta, ninguém cala
nem que da selva saia rino
da Sanzala vai a tua fala
ao Mundo, em versos, Higino.


07-05-2005

Ó Zé Luis

Bebo mais uma cerveja
como mais umas ameijoas
uma da outra não veja
que palpo-as e beijo-as.

Quem não come por ter comido
quem degusta o pratinho
sempre tem dedo intrometido
e lingua de artista no cirquinho.


07-05-2005

Tás aqui tás a levar

Tás aqui tás a levar
uma boa arrochada,
ou te pões a cantar
ou há macacada.

Já sei que és escuta,
não jogavas bem futebol,
subiste o Liz, que luta,
não era nada mole.

Mas deixa-te de tretas,
diz-nos já, agora e aqui,
se és irmão do Tanetas
és Ricardo, ó Tibi!!


07-05-2005

Passei por aqui

Passei por aqui
a ver se te encontrava
não quis o destino
já lá não morava
o meu sentido.

Sózinho fiquei
na rua a olhar
a segurar o tecido
que trago a embrulhar
o beijo que te dei...

Desse baton arroxeado
que os meus lábios beijou
à entrada
no recanto da escada
em carícias, apaixonado
onde meu teso corpo
dançou
numa lassidão lenta
desnorteado
e se vingou
no tecido que trago
carinhosamente dobrado.

Tesouro que acalenta
a boca que amou
o beijo que te dei...
... no beijo que te dei...

O beijo que te dei
foi o que ficou!


07-05-2005

Acudam-me

Meus amigos, não digam que me viram
apreensivo, cansado e prostado,
elas que não saibam, senão embirram
e já não tenho voz p'ra tanto fado.

Atentem no modo como lhes falam,
por natureza são perpicazes
fingidas, matreiras e não se calam...
Com ou sem razão de tudo são capazes!

Sujeitam-se pela moda, ao frio,
mesmo aos maiores sacrifícios...
Elegante, extravagante brio...

Torturam-me, com que malefícios...
Ora são pernas ou peitos desnudos,
ou meus tremores basbaques e mudos!


07-05-2005

Minha Querida Mita

Preferir a amizade com alma
porque não magoa ninguém
é aberto coração em salva
ao amor de todos também.


Um beijinho grande
à chicoronha
que verseje e mande
do que sonha.


06-05-2005

Esta cena do Tibi

Esta cena do Tibi
tem seu encanto
mete o Chucha
a Paula Santo (s)
a Mila, eu
e o Pedecabra,
ena tantos
haja quem abra
e não sou eu
que desembucha
quem é o Tibi
pelo que vejo
sei que se ri
o que prevejo
é que goza aqui
com todos nós
o malandro do Tibi
arre pós
que os teus calcanhares
levantarão
se não falares
da solução
só p'ra mim
em segredo
outrossim
não és Alfredo.


A sério que não sei quem é
juro p'los meus sapatos
o nome p'lo qual é
conhecido nos seus actos.


06-05-2005